Não faço outra coisa senão isso. O factor "eu" é constante, como convém; o factor "tu" é que vai mudando. Pode ser muito intenso e completamente avassalador, mas passada a tempestade vem a bonança, por sua vez expulsa por outra tempestade, com outro nome, com outra fragância e outros talentos. Perco-me dentro de mim mesma naquela adoração platónica, imaculada. Perco-me tantas vezes que quando me reencontro já não me reconheço, já sou outra pessoa, incrédula com o que fui dois minutos antes. Desfaço-me nos pedaços de pão deixados pelo caminho para marcar o regresso seguro a casa, entretanto devorados pelo tempo, o implacável devorador de mundos, imparável e incansável devorador de almas. É ele o derradeiro desafio, a superior ambição do comum mortal de o tocar e manipular, numa tentativa de se preservar a si próprio mas só alcançando a sua extinção.
És tu a fonte do tempo. Foi através de ti que o manipulei, foi dentro de ti que o parei e foi dentro de mim que o ultrapassaste.